domingo, 5 de novembro de 2023

Victor E. Frankl aplicado no estágio de Maturidade

A forma de intervenção para os indivíduos no estágio de maturidade é a logoterapia. Desenvolvida por Viktor E. Frankl, tendo como bases suas experiências como prisioneiro em um campo de concentração alemão na Segunda Guerra Mundial.

Traçando um paralelo entre a psicoterapia e a logoterapia, está é menos retrospectiva e menos introspectiva, tendo como medula espinhal o conceito de um sentido futuro para conseguir sobreviver às agruras do mundo. E para ilustrar seu pensamento traz uma frase de Nietzsche, filósofo alemão: “Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como”.

Flankl, por várias vezes cita a sua esposa, ressaltando que o amor é quintessência da sabedoria e mesmo não sabendo que sua esposa ainda estava viva, pois também estava em um outro campo de concentração, ele afirma que o amor pouco tem a ver com a existência física de uma pessoa. Ele (amor) está ligado a tal ponto à essência espiritual da pessoa amada, a seu “ser assim”, que a sua “presença” e seu “estar-aqui-comigo” podem ser reais sem sua existência física em si e independente de seu estar com vida (FRANKL, 2019). Desta maneira Flankl descortina um dos vários problemas que podem estar afetando o indivíduo no estágio de maturidade, a perda de um ente querido, abrindo um leque de possibilidades de intervenções para este assunto e suas variantes.

Concomitantemente a efemeridade do tempo o indivíduo neste estágio, enfrenta a desolação e a pobreza espiritual do seu estágio, e para escapar deste vazio Flankl, propõe que o indivíduo volte se para o interior e procure refúgio em seu passado. Revivendo experiências passadas. Mas o que ocupa o pensamento não são as grandes experiências, e, sim, muitas vezes, um fato corriqueiro, as coisas mais insignificantes de sua vida anterior (FRANKL, 2019). Mais uma vez, Flankl toca em um ponto crucial que pode ajudar a intervenção do indivíduo, que tem esse passado e que suas realizações, por menores que forem, o ajuda a prosseguir em sua jornada. Em certo momento, Flankl corrobora com este pensamento, pois muitas vezes se acha que é necessário muito tempo, cinco anos, dez anos para descobrir que determinada ação foi ou não importante para o percurso do indivíduo, mas na sua concepção, em apenas cinco ou dez minutos já é suficiente para que uma ação tomada no passado seja peremptória para o futuro e seus desdobramentos.

O humor também é uma arma que Flankl usou para sua autopreservação no campo de concentração, certa feita, o mesmo foi transferido para um campo de concentração onde não havia fornos para execução em massa, ou seja, a morte podia ficar um pouco mais longe dele, pelo menos naquele momento, esse fato o permitiu de enxergar as coisas em outra perspectiva, e chama o humor de “truque útil para a arte de viver”. Afinal é sabido que dificilmente haverá algo na existência humana tão apto como o humor para criar distância e permitir que a pessoa se coloque acima da situação, mesmo que somente por alguns segundos (FRANKL, 2019).

É possível fazer um paralelo com os prisioneiros e com os indivíduos da terceira idade, ao traçar a propensão para a apatia e irritabilidade. No livro Flankl, escreve que este estado era produzido por um sentimento de inferioridade, já que antes todos haviam sido alguém e agora eram tratados como ninguém. Quem não conhece ou, pelo menos, tem notícia de que indivíduos no estágio da terceira idade tenham sido tratados desta mesma maneira. Fazer com que esse sentimento seja retirado ou dirimido é outra forma de intervenção a fim de recuperar o amor-próprio e o sentimento de autoestima.

Mesmo diante do sofrimento, Frankl diz que ainda que ele, o sofrimento, transforme a pessoa, ela tem como decidir de qual forma se comportará, que ele chama de “liberdade interior última do ser humano”, e cita Dostoievsky: “Temo somente uma coisa: não ser digno do meu tormento”. Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá. Afinal de contas, o sofrimento faz parte da vida, de alguma forma, do mesmo modo que o destino e a morte. Aflição e morte fazem parte da existência como um todo (FLANKL, 2019). Desta forma, a maneira como será a atitude diante do sofrimento, determinará se ela é “digna do tormento” ou não. Encarar o sofrimento como parte da existência e o modo como será realizado também é uma maneira de fazer a intervenção, mostrar que o sentido de se manter firme no propósito de que os valores e visões devem ser, da melhor forma, mantidos.

Frankl fala ainda sobre a existência provisória, onde não é possível prever o fim da existência e que não é possível, em razão disso, viver em função de um objetivo, pois não existe para o futuro. Como não é possível se apoiar em um futuro, o indivíduo projeta uma forma de vida retrospectiva, depreciando o presente, e com isso deixa de procurar perspectivas criativas que ainda existem, desvalorizando a realidade e com isso há a entrega dos pontos. Em vez de transformar as dificuldades externas da vida no campo de concentração numa prova de sua força interna, elas não levam a sério a existência atual e depreciam-na para algo sem real valor. Preferem fechar-se a essa realidade, ocupando se apenas com a vida passada (FLANKL, 2019). Aqui é possível descortinar outra possível intervenção para que o indivíduo saia deste estado de letargia e volte a dar a devida importância para o presente, ao mostrar outras possibilidades enfrentamento, caso contrário sua vida irá paulatinamente se desvanecer.

O futuro de Flankl é importante para a pessoa, pois através da perspectiva futura é possível refugiar se dos momentos difíceis da existência. Caso não tenha essa consciência a pessoa se deteriora física e psiquicamente. Ao perder o sentido de futuro e consequentemente de existência não há sentido suportar o sofrimento.

Não se trata de perguntar o que esperar da vida mas sim o que a vida espera de nós. É peremptório mostrar que algo na vida, no futuro, esperará pelo indivíduo. Um filho que espera o pai, que é único e exclusivo, uma obra a quem essa pessoa é insubstituível. A responsabilidade em relação a quem espera e esse sentido de exclusividade e unicidade perante o amor e outra pessoa e em relação a uma criação ou obra ao se tornar consciente para o indivíduo no seu estágio de maturidade, o faz saber o “porquê” da sua vida fazendo o suportar o “como".


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